Ushuaia a Punta Arenas: Cruzeiro pela Patagônia com Guia Local

4.54

(13 avaliações)

Como é a experiência?

Jamais esquecerei o vento que nos recebeu ao pisar no convés naquela primeira noite em Ushuaia — cortante, quase salgado, e muito mais frio do que eu havia me preparado. O Stella Australis era menor do que eu imaginava, o que dava a sensação de estar entre amigos, não apenas embarcando num navio. Nosso guia, Martín, distribuiu pisco sours no coquetel de boas-vindas e brincou que “o fim do mundo” é um ótimo lugar para perder o sinal do celular. Ele não estava errado. Enquanto navegávamos pelo Canal de Beagle, vi as luzes da cidade sumirem atrás de nós e percebi que não fazia ideia do que cinco dias sem internet fariam com minha cabeça.

Na manhã seguinte, o foco era o Cabo Horn — ou pelo menos tentar chegar lá. A tripulação olhava para o céu, murmurando sobre o tempo (peguei umas palavras soltas em espanhol), mas a sorte estava do nosso lado e conseguimos desembarcar. Estar naquele promontório rochoso onde tantas embarcações naufragaram... é difícil de explicar. O vento uivava tão forte que era preciso gritar só para dizer “uau”. Mais tarde, na Baía Wulaia, Martín nos contou histórias do povo Yamana e da chegada de Darwin — tentei repetir uma palavra Yamana que ele ensinou, mas errei tanto que até ele riu.

No terceiro dia, já havia perdido a noção do fuso horário e só seguia o cheiro do café até o café da manhã antes de cada parada nas geleiras. O Glaciar Pia parecia irreal — gelo azul rachando lá no fundo, ecoando pelo fiorde como um trovão distante. Subimos por entre árvores lenga cobertas de musgo para uma vista que não cabia na minha câmera (e nem as fotos capturam o ar gelado no rosto). No Glaciar Garibaldi, alguns ficaram no navio tomando chocolate quente, enquanto outros subiram por raízes enlameadas para admirar a paisagem. Minhas botas ainda estão secando em casa.

A última manhã foi quase silenciosa depois de tantos lugares selvagens — exceto pelos pinguins da Ilha Magdalena, que se bicavam como vizinhos rabugentos. Ver aqueles pequenos de fraque andando desajeitados me fez rir alto; aqui ninguém se importa se você parece bobo. Desembarcar em Punta Arenas foi abrupto, como acordar de um sonho que você ainda não queria deixar.