Luxor, Aswan e Abu Simbel: Cruzeiro no Nilo com Trem saindo do Cairo

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Como é a experiência?

Mal terminamos o chá na estação de Giza quando o trem noturno começou a seguir para o sul — janelas vibrando, as luzes do Cairo ficando para trás. Era tarde, mas eu não conseguia dormir; a ansiedade para esse cruzeiro de seis dias pelo Nilo, do Cairo a Luxor passando por Aswan e Abu Simbel, era grande. O vagão tinha um leve cheiro de estofado antigo e cardamomo que alguém bebia por perto. Ao amanhecer, eu já estava esticando o pescoço para ver as primeiras imagens do Nilo perto de Aswan. Nossa guia local nos esperava na plataforma — Amira, que logo começou a contar histórias da vila da avó dela rio acima. Ela tinha um jeito de fazer até a Barragem Alta parecer uma lembrança de família.

Não sabia bem o que esperar do navio de cruzeiro — talvez algo formal demais? Mas, na real, foi bem tranquilo: cabines com janelas grandes (deixei a minha aberta à noite para sentir o ar do rio), refeições que chegavam na hora certa, e um deck onde o pessoal relaxava, de jeans a galabeyas. O ponto alto foi a saída às 5 da manhã para Abu Simbel — tão silencioso que dava pra ouvir a própria respiração enquanto caminhávamos entre aquelas estátuas gigantes na penumbra. Amira sussurrava curiosidades sobre Ramsés II enquanto eu tentava (e falhava) tirar uma foto que fizesse justiça ao lugar. Na volta, ela ofereceu chá doce; queimei a língua, mas nem liguei.

Navegando de volta para o norte, paramos no templo de Kom Ombo — metade dedicado a Sobek (o deus crocodilo), metade a Hórus — e depois em Edfu, onde você realmente anda de charrete puxada por cavalos pela cidade até o Templo de Hórus. O cocheiro sorriu quando tentei falar “shukran” direito; ele só balançou a cabeça e riu. Tem algo especial em ver a vida comum nas margens — crianças acenando de vielas empoeiradas, roupas secando nos telhados — que faz aquelas esculturas antigas parecerem menos distantes. Em Luxor, depois de passar pela eclusa de Esna (que demorou, mas ninguém se importou), foi quase difícil deixar o barco para trás.

O último dia me tocou mais do que esperava: parado no Vale dos Reis, com a luz do sol entrando nas entradas das tumbas enquanto Amira explicava como aquelas câmaras foram esculpidas na pedra há milhares de anos. Meus sapatos ficaram cheios de areia; minha cabeça cheia de nomes que não consigo pronunciar, mas que não vou esquecer tão cedo. As colunas de Karnak me deixaram tonto de olhar para cima — tanta cor ainda viva depois de tanto tempo. Pegamos o trem de volta para o Cairo justo quando o crepúsculo caía sobre Luxor, todo mundo um pouco mais silencioso que antes. Até hoje, semanas depois, às vezes me pego lembrando da brisa fresca do rio ou da risada da Amira ecoando pelas paredes dos templos.